terça-feira, 13 de junho de 2017

Quem é o dono do forró?

por Luis Ganem
Quem é o dono do forró?
Foto: Pei Fon Secom / Maceió
O hiato no mercado da música tem feito com que passemos a discutir com muito mais ênfase o “sexo dos anjos” e se quem nasceu primeiro foi o ovo ou a galinha. Coisas que antes passavam desapercebidas, ou eram dadas como desinteressantes, tornaram-se um grande assunto justamente pela falta de assunto. Pode até parecer coisa de maluco – e é mesmo – mas discutir coisas amenas como se fosse o fato mais importante do mundo denota o mar sem vento em que navegamos.

Mas nesse negócio chamado meio artístico, sempre algo surge para fazer com que não fiquemos com aquela sensação de que nada acontece. Vai daí que, ávidos por assuntos que possam nos entreter, passamos a comentar esse único tema, tirando dele o que pudermos. Seja da briga entre irmãos, com acusações e desmentidos, seja pela banda familiar que gosta de dar calote em seus parceiros, e que nada acontece com ela e com seus donos, que danam a dar satisfação para quem quiser ouvir – se é que existe quem queira; ao assunto mais comentado do momento – ou único que se tem nesse mês: quem pode e quem não pode tocar em grade de shows de festa de São João.

Pois é, o politicamente correto no forró, também chegou – em verdade já estava, só que com menos força – às rodas de conversa do meio artístico. E dessa vez, com mais força, mais chatice, mais gente sedenta em querer dinheiro, mais gente que quer atrapalhar, mais malandros e malandras e mais de tudo um pouco.

Olha, pode até parecer brincadeira, mas ‘o couro está comendo’ entre o pessoal do chamado Forró tradicional e o dos outros estilos por conta dessa coisa de tocar em evento de São João. É um tal de direito adquirido, de Constituição Federal e de direito à livre expressão, que se não fosse música, diria que quem estava discutindo o tal do direito era o Supremo Tribunal Federal. 

E o imbróglio, ao que parece, está longe de acabar. A turma do Axé mesmo defende que todo mundo – as poucas bandas do ritmo que ainda tocam -  tem que tocar onde quiser. Só esquecem eles que quando eram fortes nunca deram espaço ao pessoal do Forró poder tocar em suas capitanias. Já o pessoal do Forró Eletrônico, que no período de junho e julho chega com força às terras baianas, oriundos do “Nordeste de cima”, dizem que eles também fazem parte do Forró e que essa divisória entre o tradicional e o moderno é apenas ideia de quem quer formar reserva de mercado e não se garante – aparentemente esquecidos de que bandas de forró baianas, salvo uma ou outra, nunca tiveram espaço em outros Estados. E, finalizando, o pessoal do Sertanejo chega dizendo que sendo eles oriundos do interior do Brasil e representantes da cultura do campo, ou raiz, estão tranquilos em poder fazer shows nos meses de São João, São Pedro e Santo Antônio, principalmente na Bahia. Também esquecem eles, e se eu estiver errado por favor me corrijam: não conheço ninguém que jamais tenha visto uma banda de forró da Bahia, tradicional ou pé de serra, ser convidada para um festival sertanejo.

Pois essas “dúvidas”, por hora, têm sido a grande conversa do meio musical baiano. Posso quase afirmar que, por conta da falta de shows e dinheiro circulando no mercado artístico baiano, foi instituído o estado de calamidade artística e a expressão ‘farinha pouco, meu pirão primeiro’ nunca esteve tão em voga. 
O pior é que, em vez de se fazer algo novo, de a música criar algo novo, seja lá em que ritmo for, fincamos raiz no ócio criativo em detrimento da criação, achando que isso é o mais certo nesse momento de recessão.


Daí fico aqui a me perguntar e caso o leitor queira opinar o faça: você acha que no São João da Bahia só deveriam tocar bandas de forró? 

Bom, quem tem seu cavalo que penteie!

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